De acordo com os estudos realizados pela professora de Psicologia Educacional, da Universidade de Washington, Virginia Beringer, praticar a escrita manual, formando letras, estimula a mente e auxilia as pessoas a prestarem atenção à linguagem. Beringer também pontua que “a caligrafia e a sequência dos traços envolvem a parte pensante do cérebro”, algo que pode ajudar a exercitar o raciocínio a longo prazo.
A professora explica ainda que os estudos iniciados com escrita manual têm o objetivo de formar as crianças como escritoras híbridas. Ou seja, o processo já conhecido de utilizar a letra de forma como exercício mecânico e de leitura como incentivo de reconhecimento das letras na educação infantil, além da fase seguinte do uso da letra cursiva para escrita e estruturação de texto. Tudo isso colabora diretamente com o maior entendimento da digitação ao adentrarem no ensino fundamental.
Em entrevista ao UOL, a educadora Maria Helena de Moura Neves, professora de pós-graduação em letras da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie afirma em defesa da letra cursiva: “Quando você se põe a escrever, você não se põe a escrever pensando nas letras, você se põe a escrever pensando no sentido que você vai dar. Seus elementos são símbolos, são signos, são coisas mais compactas, com valor em si, e não fragmentos de sinais”, diz.
Como um complemento ao pensamento da professora Virginia Beringer, Maria Helena endossa a importância da letra cursiva ser apresentada às crianças, independentemente de usarem ou não após seu domínio. “Não digo que as pessoas não possam escrever à mão com letra de forma, ou digitar, mas não pode ser subtraído dela a oportunidade de ser apresentada a esse tipo de escrita”, disse ao UOL.
Um estudo publicado na Revista Nature, intitulado “Comunicação cérebro-texto de alto desempenho via escrita à mão” (“Hight performance brain to text communication via handwriting”) discorreu sobre o impacto do aprendizado de caligrafia no cérebro e sua importância cognitiva atemporal, por ser uma habilidade essencial a ser desenvolvida, ainda que o mundo esteja em um período de avanço tecnológico.
Portanto, de acordo com o estudo, o método da escrita em letra cursiva traz diversos benefícios. Dentre eles, está o exercício da continuidade de pensamento por meio dos traços uniformes ligados; a vantagem de fixar aprendizados ortográficos e a composição de palavras, frases e textos — fatores que auxiliam diretamente na concentração, na memorização e no foco —; e o auxílio na elaboração de textos mais coesos, algo que é indispensável.
O futuro da letra cursiva
É compreensível que esse questionamento venha à tona, ainda mais pelo contexto socioeducacional em que o mundo se encontra. Existe uma necessidade de repensar um método utilizado majoritariamente como exercício mecânico, ou seja, utilizado apenas para realizar cópias sem contexto ou reflexão alguma.
Ainda assim, de acordo com os estudos acadêmicos, é inegável sua importância cognitiva no desenvolvimento das crianças em âmbito escolar. Então, uma solução a ser trabalhada seria flexibilizar essa atividade com base na necessidade enfrentada — analisando caso a caso, e, principalmente, a demanda de cada aluno, sem esquecer que cada um tem uma forma aprendizagem particular e alguns precisam mais de métodos manuais que outros.
fonte: https://www.showmetech.com.br/uso-da-letra-cursiva-esta-com-dias-contados